Mais de cento e cinquenta dias de isolamento devido à pandemia de covid-19 nos levaram a valorizar hábitos simples, que durante a rotina diária da vida pré-distanciamento social, passavam despercebidos. Neste momento de confinamento, pessoas e empresas têm reavaliado constantemente seu modo de viver, trabalhar e operar, e, por consequência, as residências se tornaram o local onde hoje dispomos de lazer, do trabalho e da vida pessoal. Mas como se adequar a este momento? Para o arquiteto e urbanista Lucas Machado, o primeiro passo é claro: “Para esta adaptação é necessário aceitação, de que estamos em um novo momento e que é necessário se reinventar, depois, é fundamental entender o que você precisa para poder conciliar trabalho e família no mesmo ambiente e quais as suas reais necessidades”, explica.
Aos que tiveram que se adaptar ao home office, o arquiteto indica a escolha de um lugar mais tranquilo, em moradias com pequenas metragens, o quarto é uma boa opção para se instalar, para que haja mais privacidade e possibilidade de concentração. “Mas se o seu trabalho é um pouco mais dinâmico e você consegue conciliá-lo junto à família, o local mais indicado seria a sala, seja ela de jantar ou de TV. Em apartamentos que possuem sacadas fechadas, este local também pode servir de espaço para um pequeno home office, e a mesa, quando não utilizada, pode fazer as vezes de bancada de apoio”, acrescenta. O arquiteto aponta ainda a busca por móveis adaptáveis para criar ambientes diversos, além da valorização de uma boa iluminação e ventilação naturais.
Em residências maiores, com espaços compartilhados mais amplos, em que há a necessidade de se criar áreas de trabalho para garantir que reuniões e teleconferências sejam realizadas com conforto, existe a possibilidade de reservar um ambiente, como o quarto de visitas, por exemplo, e readequá-lo. “Também é viável criar uma pequena estação de trabalho no closet, o intuito é ter um lugar específico destinado a realização do seu ofício mesmo dentro de casa. No final do expediente, basta fechar a porta do armário e a decoração do ambiente volta a ser como antes”, revela o arquiteto.
A tendência do home office, aliás, parece ter chegado para ficar. Uma pesquisa da Fundação Dom Cabral com a Talenses Group, realizada com 375 companhias no Brasil, mostrou que mais de 70% sinalizaram que pretendem adotar a prática, de maneira parcial ou integralmente mesmo depois da pandemia. Na indústria, essa percepção alcança quase 80% das empresas, e, em serviços, 89%.
Eventos como o que estamos passando tendem mesmo a mudar comportamentos e aspectos sociais, e na incerteza da data de concepção de uma vacina e sua consequente aplicação em massa é preciso lidar com o que temos para hoje. Depois da pandemia de gripe espanhola, em 1918, por exemplo, as casas ganharam varandas para melhorar a ventilação, pisos de madeira foram trocados por superfícies mais fáceis de limpar e os lavabos foram estabelecidos, convidando os visitantes a se higienizarem ao entrar no ambiente.
Lucas lembra ainda, que os halls, até pouquíssimo tempo, tinham a função de revelar o impacto do décor e estética encontrados naquele local porta adentro, seja ele residencial ou comercial, mas neste período esse espaço já sofreu algumas alterações: “Os aparadores receberam dispensers com álcool em gel para facilitar a higienização das mãos e das compras de supermercado, além disso, já nos habituamos a incluir cestos, sapateiras e cabideiros para deixarmos ali tudo o que vier de fora”, acrescenta.
Decoração
Pensar em uma decoração que valorize objetos afetivos também pode ser uma ótima ideia. Janelas e sacadas abertas, plantas de fácil cuidado dispostas pelos ambientes, um toque de cor em algum objeto ou um porta-retrato da família são soluções fáceis e que, neste momento, podem trazer mais aconchego e leveza ao morar. “São minucias como estas que trazem bem-estar ao ambiente e que despertam o desejo de permanecer no local e não sentir a necessidade de buscar algo fora, afinal quando uma das principais medidas protetivas é ficar em casa, a moradia se tornou a única solução para a crise gerada pela pandemia do novo coronavírus”, esclarece.
Na moradia pós pandemia, Lucas acredita que as soluções acatadas neste momento permanecerão, “as pessoas tendem a se manter mais reservadas, mudando alguns hábitos pessoais, saindo menos de casa, as empresas irão valorizar mais o trabalho em home office, o que gera economia de gastos como aluguel, água e energia , além de menos carros nas ruas. A palavra de ordem deve ser, mais do que nunca, autocuidado, e por isso, essas adaptações tendem a estar mais presentes nos briefings dos projetos arquitetônicos para melhores soluções também no pós pandemia”, salienta o profissional.
Matéria originalmente publicada no portal www.revistazelo.com.br
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